sábado, 11 de fevereiro de 2012

Domingo.

(março de 2010. Niterói - RJ)

   Seguindo com os olhos o trajeto de sangue que descia a ladeira, viu sua mãozinha descoberta. O pano branco cobria o resto da morte de Felipe. Esse que deveria trazer, junto ao irmão, as compras.

   Viu o motorista do ônibus explicando-se ao policial. Viu a platéia aproximando-se do espetáculo. Fingiu não ver a esposa, aos prantos, sendo terrivelmente consolada por duas velhas feias.

   Atendia telefonemas e com a voz estremecida repetia aquele anúncio, tão dolorido, de sua morte. Mas não podia chorar. Não podia chorar.

   Não na frente de Bruninho. 

   Moleque ainda, o mais novo soluçava até não conseguir respirar. Sentado no meio-fio e de rosto encharcado, encarava silenciosamente as duas bicicletas:

   A do mais velho, toda torta. E a dele.

Um comentário:

  1. Sensível e bonito, Victor.
    Gosto da sua capacidade de dizer muito com poucas palavras.
    Aliás, não preciso nem dizer que você realmente me cativa com as palavras. "Buquê" é um texto lindo que eu frequentemente volto a ler. :)
    Enfim, o blog não podia ter um nome melhor!
    Parabéns!
    Até logooo! :)))

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