sábado, 11 de agosto de 2012

Volver, cabrón.


(Tijuana – México; 21/01/2012)

   Aquele barzinho mixuruca lembrava-o os bares vagabundos que seu pai costumava frequentar. Mesas de sinuca, posters de mulher pelada, decoração kitsch e uma jukebox. É, podia imaginar aquele velho bêbado caído no chão, ali perto da foto emoldurada da seleção mexicana de futebol.
   Assim que chegou, Túlio avistou Juan e mais dois caras armados jogando sinuca. Aproximou-se e cumprimentou-os. Pegou um taco e começou a jogar.

   Aquele lugar lhe fazia mal.

   Queria voltar para seu apartamento e relaxar ouvindo música como sempre fazia. Não queria ouvir aquela canção brega sobre cachorros e mulheres que tocava na presença de prostitutas malucas, um casal de obesos e velhos descamisados.
   Ainda que sentisse perder um pouco de sua alma a cada minuto, precisava manter a pose. Estava enlouquecendo e não podia permitir isso. Ajeitou o gravador por baixo da camisa, enquanto fingia coçar o peito e olhou-se no próprio reflexo em um vidro de uma janela suja.
   Notou o aumento de rugas em seu rosto desde que começara aquela operação policial. Dois anos, pensou. Dois malditos anos.
 
Desviou o olhar, procurando não pensar naquele carro em chamas, cheio de cabeças ensanguentadas que acabara de ver.
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Túlio infiltrou-se em um perigoso grupo do crime organizado no México por 5 anos, em uma investigação para identificar e localizar alguns dos traficantes mais influentes do país. 

Abandonou a carreira policial assim que terminou.

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