sábado, 22 de setembro de 2012

Ninguém morre


Parecia moleza.
A viseira do capacete embaçava um pouco. Num borrão, viu o saco de grana e o brilho prateado do revólver.
Esperava em sua motocicleta novinha. Verificou a garupa. Tudo em ordem. Olhou em sua volta. As ruas estavam vazias naquela noite.
Olhou novamente para a loja de conveniências. Sua mão suava. O suor limpou sua visão.
Tudo nítido agora:
Viu otários de mãos na cabeça tremendo no chão. Viu seu parceiro com o capacete preto parecido com o seu. O revólver em sua mão direita ainda brilhava prata contra a máquina registradora. Esperava que ele voltasse logo com a grana.
Aguardou-o com as duas mãos presas no guidão e com o pé pronto para dar partida.
Ali está ele. Voltando como um vencedor às pressas.
Um dos otários puxou uma pistola do bolso do casaco, dando dois tiros no vencedor pelas costas.
O vencedor caiu de joelhos. Voltou-se para trás e atirou. O otário atingido respondeu com mais três tiros.
Na moto, viu o sangue contrastado na jaqueta de couro branca de seu parceiro. Levantou a viseira e viu aquilo com horror.
Passou para a primeira. Tentou dar a partida. Nada.
Olhou freneticamente para a loja. O otário armado levantou-se.
Passou para a primeira. Tentou dar a partida. Nada.
Suas mãos tremiam. Estava ficando tonto. Sua visão ficou turva.
Passou para a primeira. Tentou dar a partida. Nada.
Abandonou sua motocicleta ali mesmo e tentou correr. Tropeçava em suas próprias pernas. Suas lágrimas o cegavam. Concentrou-se e tentou manter o controle. Correu o máximo que podia. Evitou pensamentos.
Não evitou pensar:
- Me perdoa, irmão. Nunca disse que te amava.

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